Os graves problemas gerados pelas mudanças climáticas e pelo ser humano exigem que arquitetos e engenheiros se adequem na forma de projetar, buscando uma edificação ecologicamente versátil e adaptável para diferentes situações.
As edificações existentes são de difícil adaptação, pois foram pensadas, normalmente, para atenderem a uma função específica. E tal fator se torna um problema já que a vida útil da edificação é maior que sua vida funcional.
Construções realizadas hoje ainda existirão em um futuro de instabilidade climática e escassez de recursos, e a maneira como projetamos deve otimizar e flexibilizar as futuras edificações.
Segundo EDWARDS (2013), para que isso aconteça é indispensável que a nova geração de construções:
- Aplique princípios ecológicos desde o início: devem ser incluídos no projeto desde sua fase inicial, para evitar o aumento de custos. Quanto mais alterações futuras o projeto tiver mais seu custo aumentará.
- Evite funções específicas: embora a função seja a base da forma de uma edificação, sua duração é relativamente curta em comparação com a vida útil de sua estrutura. As edificações muito específicas são inerentemente inflexíveis.
- Priorize iluminação e ventilação naturais: um projeto sustentável deve se preocupar com aspectos formais da edificação (profundidade e forma) para que a incidência da iluminação natural seja maximizada, incentivando, também, o uso de energias renováveis e passivas.
- Vise a simplicidade operacional: quanto mais complexa formalmente menor a eficiência funcional ao longo do tempo. A simplicidade das instalações e dos sistemas construtivos permite sua atualização constante, fazendo com que os usuários compreendam corretamente a edificação.
- Vise a durabilidade: uma construção de baixa qualidade pode se converter em um fardo no futuro. Edificações duráveis e de baixo custo de manutenção podem ter um custo inicial mais alto, porém, a longo prazo, economizam energia e reduzem os resíduos gerados.
- Maximize o uso de energia renovável: é fundamental que as edificações tenham o maior acesso possível as fontes de energia renovável, principalmente a solar, pois é cada vez mais comum a utilização de equipamentos alimentados por esse tipo de energia. O sol e o vento estão disponíveis e as edificações possuem um grande potencial de não apenas serem autossuficientes energeticamente, mas também em exportar o excedente produzido.
- Possibilite a substituição de partes: como a edificação irá se deteriorar ao longo do tempo deve-se facilitar a renovação ou substituição de seus componentes. Métodos construtivos flexíveis e desmontáveis simplificam muito os processos de manutenção e renovação.
Para que esses itens sejam contemplados e executados na construção de uma edificação é necessário que todos os envolvidos participem da fase de projeto, desde seu início até a fase executiva de produção. Esse processo, chamado de Projeto Integrado ou Projeto Integrativo, é de suma importância para que todas as decisões sejam tomadas desde o principio do projeto e amadureçam conforme o processo for avançando CHING (2017).
Com o projeto integrado, todos aqueles que participam do projeto – incluindo o proprietário, o arquiteto, os engenheiros, os consultores, os inquilinos e os construtores – trabalham em conjunto, como uma equipe, desde os estágios mais iniciais do projeto.
Esse enfoque colaborativo possibilita que todos contribuam para tornar a edificação mais sustentável, e que os diversos pontos de vista e necessidades sejam levados em consideração no projeto. O planejamento integrado possibilita inestimáveis contribuições para arquitetura sustentável, sobretudo por permitir uma avaliação precoce de custos e vantagens energéticas.
Nesse processo precisamos identificar claramente os objetivos do cliente, desde as etapas iniciais, do modo mais detalhado possível, determinando as prioridades dos proprietários e as condicionantes da construção. Essas decisões iniciais influenciarão as escolhas posteriores, como a tecnologia a ser utilizada para a eficiência energética ou o custo-benefício do sistema construtivo adotado.
O projeto integrado envolve bom senso, permitindo que todos os componentes de uma edificação funcionem em conjunto ao invés de funcionarem como peças isoladas de um quebra-cabeças. Ele é a prática de projetar de maneira sustentável.
Diferente do projeto convencional, o projeto integrado exige um equilíbrio intenso – bem como uma lista de prioridades – a fim de obter uma edificação sustentável de sucesso. Esse processo funciona sempre que a comunicação entre os membros da equipe é bem-feita e quando cada projetista tem um profundo entendimento dos desafios e das responsabilidades enfrentados pelos seus colegas. O processo integrado é uma troca de experiências, dificuldades e soluções em conjunto. Nas imagens a seguir é perceptível a diferença entre o projeto convencional e o integrado. Nesse último todos os agentes estão envolvidos desde o início do processo
Fases de um Projeto Convencional. Fonte: GBC Brasil
Fases de um Projeto Integrado. Fonte: GBC Brasil
De acordo com KEELER (2010) para que um projeto integrado tenha sucesso temos que nos atentar em relação aos seguintes itens:
- Entender o escopo do projeto;
- Quais impactos ambientais do projeto a equipe deverá considerar;
- Entender as responsabilidades da equipe e definir as atribuições de cada um;
- Considerar como o projeto de sua equipe abordará as questões do sítio e da comunidade;
- Ponderar os impactos inter-relacionados das soluções propostas;
- Estabelecer prioridades;
Em linhas gerais o projeto integrado une as pessoas, os sistemas de todo o processo, as estruturas de negócio e as práticas arquitetônicas-construtivas dentro de um conjunto de soluções que enfatize as melhores propostas para a otimização dos resultados a serem gerados. O processo como um todo eleva o valor do projeto através de uma inteligência compartilhada e coletiva, onde o intuito é reduzir o desperdício e aumentar a eficiência durante todas as fases de projeto e de construção.
Até o próximo post.
Um grande abraço.
Arq. Wellington Pereira
Bibliografia
CHING, Francis D. K. Edificações sustentáveis ilustradas. Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2017.
EDWARDS, Brian. O guia básico para a sustentabilidade. 2a. Edição. Barcelona: Gustavo Gili, 2013.
KEELER, Mariam. Fundamentos de projeto de edificações sustentáveis. Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2010.
2 respostas para “A importância do Projeto Integrado na arquitetura sustentável”